Não sei o que sinto, estou ainda atordoado...
Partilho a sombra com a leve brisa que junto a mim se vem também abrigar. Respiro-a profundamente, ainda quente, acalmando os poros que o calor fez dilatar.
O suave canto das folhas embala-me sonhos que partem, vagueiam sem rumo, além das fronteiras traçadas pelo sol com as formas dos frondosos corpos sob os quais me deleito. Não têm limites para respeitar. Deixo-os ir e encosto no tronco, deste jardim o trono de onde tudo vejo e em que meu olhar reina sem pensar nem julgar.
E eis que vejo, por entre cortinas de água que como miragens se elevam no ar, uma silhueta feminina, correndo, brincando, sorrindo, mais feliz quando os translúcidos panos não têm tempo para abrir antes de por eles passar.
Fecho os olhos. Chamo de volta os sonhos e de repente quem corre sou eu, és tu, um par. E já não corremos, antes dançamos, em salões que também dançam, ao som da mesma música: vento, folhas, água. E tudo parece tão natural...
Abro os olhos. Ainda eu e a brisa, descansando. Respiro-a profundamente, ainda quente, de tão real ser meu sonhar. Olho em volta e percebo. Estás na minha natureza.
"Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejeiras"
Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada